sexta-feira, 23 de outubro de 2009
LÁGRIMAS OCULTAS
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida ...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago ...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim ...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
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Obrigada por trazer esta poetisa que aprecio muito e, desde sempre. Palavras sempre sentidas e, plenas de sentidos sentires.
ResponderEliminarÉ sempre bom voltar a reler e, também revermo-nos em certos momentos.
Bjnh com Luz
Prefiro as não ocultas mas raramente as "uso" (infelizmente)
ResponderEliminarOu como diria também a poetisa F. Espanca "quando morrer, procura-me no mar".
ResponderEliminarÉ uma frase poética que não vejo como negra.
beijinho amigo
Palavras para quê?
ResponderEliminarUm poema como só Florbela Espanca sabe fazer.
Gostei deste espaço. Contém o negro tinta das palavras.
Um poema muito bem escolhido... a Florbela tinha uma forma muito singular de construir a poesia...
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